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Iguaiense é empossado na Academia Conquistense de Letras

O escritor Marcos Antonio Freire Martins,  natural de Iguaí, e que atualmente reside em Vitória da Conquista,  foi empossado como confrade da Academia Conquistense de Letras.

Marcos Martins
Foto: Marcos Martins

Na noite de sexta-feira, 19, foram empossados os novos confrades da Academia Conquistense de Letras. A solenidade, dirigida pela presidente da ACL, Dilma Andrade, foi realizada no Centro de Cultura de Vitória da Conquista e contou com a participação de outros honoráveis escritores, além de autoridades, artistas e populares. Tomaram posse as professoras Norbelia de Sousa Neris e Rosana Temóteo, além do Dr. Marcos Antonio Freire Martins.

Discurso de posse da academia Conquistense de Letras – 19/04/2013.

 “Mais perigoso do que conservar o que não serve é adotar o que não é bom” (palavras de Pontes de Miranda).

Honorável Presidente da Academia Conquistense de Letras,
Honrados confrades,
Autoridades aqui presentes,
Meus senhores e minhas senhoras:

 Foi-me entregue a difícil missão de discursar perante vossas senhorias, tarefa que transcende toda minha capacidade, eis que me sinto totalmente desprovido de eloquência e carecedor do valioso dom da oratória.  Por isso, nesse momento em que minha voz claramente escapa-me e a minha carne se estremece como vara verde, peço-lhes humildemente que me perdoem qualquer deslize nesta minha singela prédica de posse.

Nasci na cidade de Iguaí em um tempo de grande efervescência política e cultural não somente aqui no Brasil, mas por todo mundo. Por determinação do destino que me foi traçado, passei grande parte da minha infância na capital pernambucana, onde experimentei uma dúbia sensação de encantamento e frustração: De um lado, pelas belezas e entretenimentos que a cidade me oferecia, com suas ruas servidas pela frota de trólebus, as praças ornadas com parques de diversão, os rios venezianos que ainda a entrecortam serenamente e suas praias de beleza singular, o que contribuiu para a formação da minha percepção mais lírica da realidade. Do outro, pelas dificuldades financeiras que eu e a minha família experimentamos, inclusive pela falta de moradia própria – o que nos obrigava a mudar de endereço de tempo em tempo – e por causa das enchentes do Rio Beberibe, que invadiam nossas casas e impelia-nos ao refúgio, fomentando-me uma visão mais dramática da vida.

Mas foi em Nova Canaã que minha mente juvenil pôde aprimorar essa concepção dualista da vida, pois ali eu experimentei o inefável prazer de conviver com figuras folclóricas e de provar as mais ricas e diferentes sensações e aventuras, num panorama cercado de matas verdejantes, montanhas escarpadas e rios borbulhantes. Foi lá também que adquiri uma devoção toda especial pelos livros, quando minha mãe levava-me à biblioteca pública municipal, onde eu permanecia horas e horas lendo e relendo livros infantis e sonhando em, um dia, já adulto, ser escritor, não sabendo eu que um bom autor deve ser uma eterna criança ou, ao menos, ter o coração aventureiro de menino.

Lembro-me do primeiro livro que ganhei de presente dos meus pais, obra essa intitulada “No País das Formigas”, de Menotti del Picchia, em que eu me identificava  imaginariamente com os personagens João Peralta e Pé-de-Moleque, esquecendo-me momentaneamente que a minha realidade não se distanciava daquelas aventuras de ficção.

Já na época da faculdade de Direito, em Salvador, coloquei em prática minha inclinação lírica e dediquei-me a escrever poemas e reflexões, muitos dos quais perdidos nas folhas de cadernos universitários ou em pedaços de papel esquecidos dentro de algum livro.

Meu primeiro livro publicado – “O que a Bíblia Diz sobre Reencarnação” –, lançado no ano de 2003, teve sua primeira edição esgotada em apenas oito meses, o que me motivou a escrever minha segunda obra, recusada pelas editoras de tão ruim que ficou. Isso me trouxe uma bela lição: Escrever não deve ser um ato apenas de rotina ou necessidade, como comer ou dormir, mas um fato da inspiração.

No ano de 2007, saí vencedor em concurso de literatura promovido pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia com o livro “Maria, a Melete”, publicado em 2008, romance que marca minha incursão no mundo da ficção e consagra a cidade de Vitória da Conquista como palco de belas, porém trágicas histórias. A propósito, a referida obra constitui-se em clara declaração de amor a esta cidade, que me acolheu de braços abertos, como a um filho.

Em 2011 vieram “A Penumbra – Ensaios Poéticos”, livro de poesias, e “Contos de uma Terra Prometida”, cujo lançamento foi uma homenagem à minha querida terra adotiva, Nova Canaã. Por fim, em 2012 nasceu “O Direito Líquido e Certo em Mandado de Segurança”, obra jurídica que trata de um tema específico no tocante àquela ação de natureza constitucional.

Muito embora já tenha lançado cinco obras e escrito diversos textos, que se encontram publicados em livros, periódicos ou na internet, é com grande satisfação e jubilosa admiração que recebo este convite para ingressar nesta colenda casa como um dos seus membros, mas – cumpre-me destacar – não me sinto digno de tamanha honra. Por isso, resta-me agradecer a Deus em primeiro lugar e, em segundo, aos senhores confrades por tão especial deferência, pois coloca este humilde aprendiz de escritor em pé de igualdade com os honoráveis membros desta casa.

A frase que abriu o meu discurso, “mais perigoso do que conservar o que não serve é adotar o que não é bom”, proferida por um dos maiores intelectuais que este País já produziu, do qual me orgulho de tê-lo como patrono, revela uma questão bem atual, em que os antigos valores sociais estão sendo substituídos por uma ética ambígua, confusa, duvidosa e equivocada. E – o que é pior – tal situação parte daqueles que têm o dever legal ou moral de semear o bem e resguardar o que é bom, o que nos deixa muitas vezes perplexos, de braços atados e de boca cerrada, sem poder reagir contra esse mal que assola a nossa cultura. Diante disso, devemos reconsiderar nosso real papel enquanto escritores e, por conseguinte, formadores de opinião e lutar contra essa perversa quebra de paradigmas, em que a família tradicional é destruída, a educação fundamental é sucateada, os ideais nobres são pervertidos e as crenças benévolas são desfeita por simples birra ou capricho de uma minoria. Sei que todos têm direitos, mas deve vigorar o princípio que informa que, para toda prestação, há uma contraprestação, ou seja: para todo direito há um dever, e esse dever pode (e deve) ser traduzido como a necessidade de respeito à opinião dos que não desejam se adaptar à pós-modernidade e preferem viver o tradicional com segurança e paz. Lembremo-nos: nem tudo que é antigo é antiquado; há muita sabedoria no velho, erudição no antigo e entendimento no passado. Triste é o povo que abdica das suas tradições e despreza sua própria história.

Como fora mencionado, tive a imensa satisfação de ter como patrono o grande jurista, escritor, matemático e filósofo Pontes de Miranda. Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda nasceu em Maceió no dia 23 de Abril de 1892. Bacharelou-se em Direito aos dezenove anos, em 1911, ano em que escreveu seu “Ensaio de Psicologia Jurídica”, obra elogiada por outro ás do Direito, o preclaro Ruy Barbosa. Foi professor honoris causa de muitas universidades pelo Brasil afora, desembargador do antigo Tribunal de Apelação do Distrito Federal e embaixador do Brasil na Colômbia. Publicou nada menos que 144 volumes em livros, a maioria na área do Direito, e foi premiado por duas vezes pela Academia Brasileira de Letras, da qual tornou-se imortal em 1979. Com um currículo desses, sinto-me acanhado e completamente desmerecedor de assentar-me em sua cadeira.

Concluo minha fala com profunda gratidão a todos aqueles que estiveram ao meu lado nessa jornada, em especial aos meus pais Ebenézer e Alaíde, que sempre foram meus fiéis apoiadores. À saudosa tia Noeme Martins Matos (in memoriam) e filhos por sua grande ajuda na minha educação. À Dinalva Araújo Brito, minha amada, que me ajudou a vencer a barreira do medo e da timidez. Também ao meu filho Sammuel Gusmão Martins e aos meus queridos irmãos, sobrinhos, amigos, colegas e leitores, pois minha arte ficaria obscura sem vocês. Acima de todos, minha gratidão a Deus por me conceder a oportunidade de chegar a tão grandioso título. A Ele sejam dadas a honra e a glória para todo sempre. Amém!

Muito obrigado.

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